Lucas 6:20-26

A versão de Lucas das bem-aventuranças é contracultural e, por isso, nos sentimos um pouco desconfortáveis toda vez que essa leitura do Evangelho é apresentada. Jesus declara "felizes" aqueles que são pobres, têm fome e choram. Ele declara infelizes aqueles que são ricos, que estão cheios e que riem. Essa não é a maneira como a sociedade vê as coisas. De fato, as bem-aventuranças são exatamente o oposto de como a maioria das pessoas na maioria das culturas pensaria: sucesso, riso e abundância são apresentados como o que devemos buscar na vida.

Por isso, há algo chocante nessas bem-aventuranças e desgraças. Jesus não está dizendo que a pobreza é uma bênção em si mesma. O que ele está dizendo é que os pobres são abençoados porque Deus trabalhará para transformar sua situação. Muitas vezes, é a situação de vulnerabilidade que cria um espaço para Deus trabalhar. Quando olhamos para trás em nossas vidas, podemos ver que muitas vezes é a nossa necessidade que nos abre para Deus. Quando estamos pobres, famintos e chorando, esses são os momentos em que é mais provável que experimentemos a proximidade e a ajuda de Deus, pois sentimos uma dependência genuína dele. Jesus está pedindo que sempre busquemos essa dependência dele e que estejamos abertos à presença transformadora de Deus.

Eustache Le Sueur pintou as oito bem-aventuranças, as qualidades ideais identificadas por Jesus, para a capela particular da casa de seu patrono Guillaume Brissonnet em Paris. Essa personificação da mansidão, pintada em 1650, fazia parte dessa série e acompanhava um retábulo da Anunciação. As bem-aventuranças, com seu fundo dourado padronizado, revestiam a faixa inferior desse retábulo. Aqui, a personificação da Mansidão (uma das Bem-Aventuranças do Evangelho de Mateus), apropriadamente acompanhada por um cordeiro, incorpora as palavras de Cristo no Sermão da Montanha: "Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra".